Que os nossos lábios misturem sonetos no compasso de uma palavra; que a nossa voz destile horas de melodia em uma única sílaba; que a nossa língua diga em uma letra a essência da harmonia dos séculos; escrevemos sobre um momento que excede todos os dias da nossa vida, como o ouro excede a escória. Como a noite da páscoa de Israel era uma noite para ser lembrada, um tema para os músicos e uma incessante fonte de canto de ações de graças, assim também é o momento do qual agora falamos, a hora nunca esquecida de nossa libertação da culpa e de nossa justificação em Jesus.
Outros dias se misturaram com seus semelhantes até que, como moedas em circulação, sua imagem e assinatura são completamente apagadas; mas este dia permanece novo, vívido, radiante, tão especial em todas as suas partes como se fosse ontem, perfumado como a hortelã recém-colhida. Tal lembrança deve permanecer sendo apreciada, e, mesmo diante da morte, ela não será tirada do coração na hora feliz da redenção de nosso espírito. O escravo que foi libertado pode esquecer o dia em que ouviu os seus grilhões serem quebrados e caírem ao chão; o traidor perdoado pode deixar de se lembrar do momento em que o machado foi afastado pelo perdão; e o marinheiro que já esteve desesperado pode não se lembrar do momento em que uma mão amiga o livrou de águas profundas. Mas, quanto à hora em que o pecado foi perdoado, aquele momento de perdão perfeito, nossa alma nunca o esquecerá enquanto viver e encontrará que tal memória é imortal.
Extraído do livro O Santo e Seu Salvador de Charles Haddon Spurgeon