Um tesouro certa vez me foi dado,
Um presente de estima sem fim,
E foi-me dito que deveria ser meu trabalho
Meu tesouro guardar com cuidado:
Era a tarefa na Terra pra mim.
Com passo descuidado eu dançava
A vida era como dia de verão;
As esperanças eram altas, o coração pulsava:
Pobre coração! Força vã! Logo observava
O caminho cercado de tribulação.
Por campos hostis as jornadas se dão,
E as atravesso com pés negligentes;
Sempre esqueço meu custoso galardão,
E quase o perco como que de supetão
Por traição e enganos, entrementes.
Meu tesouro, os inimigos quiseram despedaçar
de minhas fracas e vacilantes mãos;
Por vezes por ninharias mais leves que o ar
Rendi-me, diminui minha atenção,
E tremendo, esvaecendo no desesperar,
Mal conseguia aguentar-me são.
Mas ainda estava lá Aquele que me procurou
para me ajudar e socorrer;
Tivesse o obedecido, veria o que me ensinou
Como, sem perdas, Ele poderia ver quem voltou
Dessa vez, de certo poderei vencer.
Mas eu fui teimoso, precipitado e vazio,
Não atendia Seu chamado,
Cercado de dores, com coração doentio
Eu ouvia doce voz, como um cicio,
E, então, eu tudo havia Lhe entregado.
E agora meu Amigo, poderoso Amigo,
caminha sempre ao meu lado;
Seguro Sua mão, ouço Seu tom,
E na presença recebo a alegria, Seu dom,
E estou saciado.
Extraído do livro Poemas perdidos: uma antologia do início do protestantismo no Brasil de Sarah Poulton Kalley