David Brainerd, 9 de março de 1746:
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Enquanto cantávamos, apareceu a mulher mencionada em meu diário em 9 de fevereiro. Aventuro-me a dizer, se é que posso dizer tanto de qualquer pessoa que eu já tenha visto, que ela estava tomada por uma “alegria indizível e cheia de glória”, de tal maneira que não conseguiu conter-se, mas prorrompeu em oração e louvores a Deus diante de nós todos, em meio a muitas lágrimas. Falava, algumas vezes em inglês e algumas vezes na língua dos índios: “Oh, Senhor bendito! Vem, vem! Oh, leva-me daqui; deixa-me morrer e ir para perto de Jesus Cristo! Tenho medo de continuar viva e pecar de novo. Oh, deixa-me morrer agora! Oh, querido Jesus, vem! Não posso ficar, não posso permanecer aqui! Como posso continuar vivendo neste mundo? Tira a minha alma deste lugar pecaminoso! Oh, nunca mais deixes que eu peque contra Ti! Oh, que farei, que farei, querido Jesus, querido Jesus?” A mulher continuou nesse êxtase por algum tempo, proferindo essas e outras expressões similares sem cessar. O grande argumento que ela usava com Deus, para tirá-la do mundo prontamente, era: “Se eu continuar vivendo, posso pecar novamente’’. Quando ela quase voltara ao seu estado de espírito normal, perguntei-lhe se agora Cristo parecia doce e meigo para a sua alma. Diante da pergunta, voltando-se para mim com os olhos marejados de lágrimas, e com todos os sinais da mais sincera humildade que eu já vira em alguém, ela respondeu: “Por muitas vezes eu ouvi você falar sobre a bondade e a doçura de Cristo, que Ele é melhor que o mundo todo. Mas eu realmente não tinha entendido o que você queria dizer. Eu não acreditava em você, não acreditava em você! Mas agora sei que é verdade!” Ela continuou falando coisas assim. Então indaguei: “E agora você vê em Cristo o bastante para os piores pecadores?” Ela respondeu: ‘’Oh, suficiente, suficiente para todos os pecadores do mundo, se eles quiserem vir a Cristo”. Quando perguntei se ela poderia falar a outros sobre a bondade de Cristo, então, voltando-se para algumas pessoas sem Cristo que estavam paradas perto de nós, parecendo muito interessadas, ela disse: “Oh, há bastante em Cristo para vocês, se vocês vierem a Ele. Esforcem-se, esforcem-se por entregar a Ele os seus corações”. Ao ouvir algo sobre a glória do céu, onde não há nenhum pecado, ela novamente caiu em estado de êxtase, na alegria e no desejo pela volta de Cristo, repetindo suas expressões anteriores: “Oh, querido Senhor, deixa-me ir daqui! Que farei, que farei? Quero ir para Cristo. Não posso continuar vivendo. Oh, deixa-me morrer”. A mulher continuou nesse estado mental por mais duas horas, antes de voltar para casa. Eu bem sei que pode haver uma profunda alegria, que chegue até mesmo ao ponto de êxtase, onde, ainda assim não haja evidências substanciais de estar bem fundamentada. Neste caso, porém, parece que não faltavam evidências capazes para provar que aquela alegria tinha origem divina, no que se refere aos fatos antecedentes, às circunstâncias dos acontecimentos e às consequências. Dentre todas as pessoas que tenho visto estarem sob a influência do Espírito, raramente encontrei outra mais humilde e quebrantada, sob convicção de pecado e miséria, do que esta mulher - indícios usualmente reputados como uma obra preparatória. Também nunca vi alguém que parecesse conhecer melhor o seu próprio coração do que ela, que frequentemente se queixava a mim acerca da sua dureza e rebeldia. Ela disse que seu coração se elevou e discutiu com Deus, quando pensou que Deus poderia fazer com ela o que melhor Lhe parecesse, enviando-a para o inferno, apesar de suas orações, de seu estado de espírito, etc.; e que seu coração não se dispunha a vir a Cristo para dEle receber a salvação, mas tentava apelar para outros lugares para receber ajuda. E como parecia notavelmente sensível para com sua teimosia e oposição a Deus, estando sob convicção, assim também ela pareceu não menos submissa e reconciliada com a soberania divina, antes de ter obtido qualquer alívio ou conforto. Desde então ela tem dado mostras de viver num estado de espírito de uma alma regenerada. Clamava por Cristo, não por medo do inferno, como antes, mas tendo forte desejo de ir até Ele, como sua única porção satisfatória. E por muitas vezes tem chorado e soluçado amargamente, porquanto conforme entende, ela não tem amado e nem tem podido amar ao Senhor. Certa vez perguntei a ela por que parecia tão entristecida; se não seria por receio do inferno. Então ela respondeu: “Não, não me aflijo por causa disso; mas é que o meu coração é tão iníquo que não posso amar a Cristo como devo’’. E, assim dizendo, desmanchou-se em lágrimas. Mas embora esse tenha sido o seu estado de espírito por diversas semanas em seguida, de tal modo que as operações da graça, em sua vida, têm sido visíveis aos olhos de outras pessoas, visto que ela mesma parecia totalmente insensível a essas operações antes, e nunca sentira qualquer consolo maior e satisfação tão sensível até esta noite.
Extraído do livro A Vida de David Brainerd de Jonathan Edwards.