Ó Amor que não me deixarás ir,
Eu descanso minha alma cansada em Ti;
Eu devolvo a Ti a vida que Te devo,
Para que em Teus profundos oceanos, seu fluir
A faça mais rica, mais plena.
Ó luz que me segues por todo o meu caminho,
Eu entrego minha tocha vacilante a Ti;
Meu coração restaura seu raio emprestado,
Para que, no brilho do Teu sol, seu dia
Possa ser mais brilhante, mais belo.
Ó Alegria que me procuras em meio a dor,
Eu não posso fechar meu coração para Ti;
Eu sigo o arco-íris através da chuva,
E sinto que a promessa não é vã,
Que a manhã será sem lágrimas.
Ó Cruz que levanta minha cabeça,
Eu não ouso pedir para fugir de Ti;
Eu deito no pó a glória morta da vida,
E, desse chão, irá florescer
A vida que será eterna.
No dia em que uma de suas irmãs estava se casando, Matheson escreveu esse hino. Ele registrou a experiência em seu diário:
Meu hino foi composto na casa pastoral de Inellan na noite de 6 de junho de 1882. Eu estava sozinho naquele momento. Era o dia do casamento da minha irmã, e o resto de minha família foi passar a noite em Glasgow. Alguma coisa tinha acontecido para mim, que era conhecida apenas por mim, e que me causou o mais severo sofrimento mental. O hino foi fruto daquele sofrimento. Ele foi o mais rápido trabalho que já fiz na minha vida. Eu tive a impressão de ter sido ditado a mim por alguma voz interior mais do que de ter sido obra minha. Tenho certeza de que todo o trabalho foi concluído em cinco minutos, e estou igualmente certo de que nunca recebeu de minhas mãos qualquer retoque ou correção. Eu não tenho nenhum dom natural para ritmo. Todos os outros versos que escrevi são artigos manufaturados; esse veio como o amanhecer. Eu nunca fui capaz de expressar outra vez o mesmo fervor em versos.
Matheson não nos conta a fonte do seu sofrimento, mas relata que a ocasião foi no dia do casamento da sua amada irmã, que sempre fora sua mão direita. Aprendeu grego, latim e hebraico, para melhor ajudá-lo nos seus estudos teológicos. Esta irmã continuou a colaborar com ele durante toda sua vida. Era ela quem o guiava nas suas visitas pastorais. É muito provável que o casamento dela trouxe a ele a lembrança de uma outra perda, a da sua noiva que o deixou, tantos anos antes, quando soube que ele se tornaria completamente cego, e que o intenso sofrimento de estar na escuridão da sua cegueira, totalmente só, foi o que afligiu o autor.