Homens de ciência já têm medido montes Sondado a fundo mares, reinos e reis;
Perscrutam o céu, medindo-o; rastreiam fontes.
Mas duas coisas há bem mais vastas, e eis
Que melhor estas convinham a um medidor –
Poucos as sondam: são o pecado e o amor.
Vá ao Horto das Oliveiras quem quiser
Conhecer o pecado; ali, torturado
De infindas dores, um homem vai-se ver:
Cabelos, pele, vestes ensanguentados.
O pecado é o instrumento que carreia
A dor: compele-a a nutrir-se em cada veia.
E aquele que o Amor quiser avaliar,
Procure provar o sumo que, da cruz,
Uma lança fez jorrar; diga depois
Se jamais provou de um outro similar.
Pois o Amor é esse licor, doce e divino,
Que a meu Deus soube a sangue; e a mim sabe a vinho.